Existe um despreparo dos pais aos professores de como lidar com seus filhos em relação às drogas e ao álcool [2] . As pesquisas e as sucessivas estratégias de ação preventiva do governo sugerem que a sociedade ainda não está organizada quanto ao que fazer sobre as drogas e seus dependentes.
Parece que os pais estão divididos em dois grupos: há os mal informados e indiferentes quanto ao perigo das drogas, e há os esclarecidos, mas que não sabem como fazer para que os filhos não se viciem. Ou seja, em ambos os grupos o despreparo dos pais quanto à prevenção da narcodependência é parecido ao que ainda existe em relação à sexualidade dos filhos. (Obs: narcodependência, drogadicção, toxicomania, dependência química, são termos que se remetem ao mesmo problema, porém, cada termo é usado segundo abordagens distintas e momentos históricos específicos das pesquisas e dos debates sobre drogas. Conferir, abaixo, nota sobre a drogadicção [3] ).
Os pais que tendem a ansiedade e ao desespero quanto ao assunto, vale registrar a posição do Cedrid (Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas, da Universidade de São Paulo) que recomenda que os pais não devem demonstrar falta de atenção ou indiferença, nem devem transmitir excessiva preocupação, insegurança e pânico, aos filhos.
Também não basta falar sobre os malefícios das drogas, ou levar os filhos a assistir palestras com especialistas ou, ainda, fazê-los ler ou assistir reportagens de ocasião, em geral, superficiais, ingênuas e pouco reflexivas. Atitudes assim, mesmo bem intencionadas – inclusive de governos - , funcionam apenas para “converter os convertidos”, mas não atraem, nem sabem seduzir os que já estão no campo de risco. Informar sobre os malefícios das drogas é importante, mas como tema isolado, não forma uma ética de responsabilidade. O caminho da discussão quanto à qualidade de vida parece ser melhor. Daí a Agenda para a referida Semana de Prevenção às Drogas, promovida pelo Governo do Paraná, em 2003, ter como primeiro tema a ser desenvolvido “Qualidade de vida e equilíbrio social...”.
O esforço deve ir além de palestras sobre “qualidade de vida”. A sociedade precisa se organizar e se preparar ampla e profundamente para educar a criança e o jovem no sentido de enfrentarem os perigos da sociedade contemporânea, em que a droga é apenas um dos vários elementos preocupantes. Trabalhar a nova organização familiar é necessário e urgente. “A família é uma espécie de prevenção e ajuda aos filhos contra o vício”, afirma Wagner Gattaz, chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de S.Paulo (por G.Dimenstein, FSP, 20/7/98).
Pesquisas apontam que os jovens com laços afetivos fortes, especialmente dentro da família, tendem a lidar melhor com o fascínio que as drogas oferecem. A historinha do patinho feio marca a importância do sentimento de inclusão em uma família. O sentimento de “familidade” (Osório, 1986 : 177) pode funcionar como prevenção. Todavia, para que esse “laço afetivo forte” exista é necessário que seja construído no dia a dia. O vínculo biológico nada vale se não existir o laço afetivo. É necessário que as funções “pai”, “mãe”, “irmãos”, sejam simbolicamente definidas no imaginário das pessoas. Assim, o jovem que se cria dentro de um universo de referências, como se fosse uma bússola de orientação social e de vida, está mais bem preparado para enfrentar os perigos de nossa época; é mais difícil dele ser seduzido para outro grupo “familiar” ou do vicio.
Alguns equívocos
Entretanto, não basta sentir pertencendo a uma família para evitar cair na narcodependência. As drogas também acontecem nas “boas famílias”. (Também acontecem em “boas escolas e universidades”). Há vários equívocos quanto a narcodependência. O jovem que experimenta uma droga pela primeira vez não será, necessariamente, um viciado. Isso depende de muitos fatores. Porém, drogas como o crack e a cocaína aumentam a probabilidade de levar uma pessoa normal se tornar um adicto ou dependente. Isto porque o poder viciante do crack é 80% (a cocaína é 50%), ficando difícil o sujeito sustentar que “pode parar quando quiser” (Tiba, 1998: 17).
A primeira experiência de uma “fumadinha” ou “cheiradinha” a convite do grupo de amigos, dos colegas da escola, de vizinhos ou parentes, representa maior risco de dependência do que o de ser pressionado pelo narcotraficante local. Em outras palavras, os pais precisam ter mais cuidado com as amizades dos filhos. Isso não quer dizer que os pais devam proibir os filhos de sair de casa, de ir as festas, de visitar ou dormir na casa de amigos, etc. Afinal, os jovens precisam e têm o direito de se divertir. O agir repressivo pode despertar a raiva e ressentimentos, a proibição pode aumentar o desejo e a curiosidade de saber como é. É preciso que os pais saibam não só criar nos filhos, mas formar neles o senso de responsabilidade, quanto as suas escolhas e ações. Isso não é tarefa fácil, mas deve ser trabalhado neles desde pequenos, como sendo um investimento, para que no futuro sejam bons cidadãos e saibam viver a liberdade com responsabilidade.
Vários estudiosos alertam que o álcool, os sedativos, as anfetaminas, os solventes (inalantes) ou preparados artesanais são a “rampa de lançamento para as drogas mais pesadas” (Yaria, 1992 : 129-ss). Contra a corrente que pretende a discriminalização da maconha, existe o forte argumento de que ela própria é porta de entrada para a dependência de drogas mais pesadas. Entretanto, tanto as drogas consideradas “leves” como as consideradas “pesadas”, ambas podendo ser ilícitas ou lícitas, têm o poder de causar dependência ou adicção [4] .
Por outro lado, slogans moralistas que consideram a droga como coisa ruim, negativa, demoníaca, podem ser ineficazes tanto nas relações domésticas como nas campanhas educativas. Evidentemente, as drogas têm o poder de arruinar a saúde e a vida das pessoas e da sociedade, porém, as campanhas antidrogas criadas por ONGs, apoiadas pelos governos [5] e transmitidas pela mídia, por vezes trabalham com conceitos e valores diferentes dos usados pelos jovens e, por isso, podendo não funcionar, em termos de prevenção. O mesmo se pode dizer quanto à atitude autoritária e moralista de pais, da igreja e até da escola [6]
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